quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Do primeiro texto

Ainda é tempo de comentar o texto de Tomaz Tadeu, "Por uma pedagogia da diferença".

Destaco o seguinte parágrafo como o mais válido:

"Não se trata, entretanto, apenas do fato de que a definição da identidade e da diferença seja objeto de disputa entre grupos sociais assimetricamente situados relativamente ao poder. Na disputa pela identidade está envolvida uma disputa mais ampla por outros recursos simbólicos e materiais da sociedade. A afirmação da identidade e a enunciação da diferença traduzem o desejo dos diferentes grupos sociais, assimetricamente situados, de garantir o acesso privilegiado aos bens sociais. A identidade e a diferença estão, pois, em estreita conexão com relações de poder. O poder de definir a identidade e de marcar a diferença não pode ser separado das relações mais amplas de poder. A identidade e a diferença não são, nunca, inocentes."

Segui lendo o texto esperando que o autor identificasse os grupos sociais "assimetricamente situados" e que desenvolvesse minimamente as razões pelas quais existe assimetria (um eufemismo escolhido para desigualdade): nem identificação dos grupos, nem o mínimo desenvolvimento, infelizmente.

Ficamos sem saber quais relações de poder estão em conexão com a identidade e a diferença - o que diminui o texto de Tomaz, uma vez que ele rejeita aquela abordagem em que "
o outro aparece sob a rubrica do curioso e do exótico" justamente por não "questionar as relações de poder envolvidas na produção da identidade e da diferença culturais".

Tomaz tampouco questiona tais relações. Ele sequer as apresenta. Assim como o signo para Derrida, uma explicação por parte do autor "não é uma presença". A posição de Tomaz também fica "indefinidamente adiada".

Agora, o autor acerta quando denuncia a artificialidade da identidade: "Sou brasileiro" não diz nada a meu respeito senão que nasci (ou fui registrado) no Brasil. Qualquer outra implicação inferida dessa afirmação seria ideológica, veiculadora de certo interesse ou preconceito - como numa vez em que José Sarney disse que o brasileiro era alegre ou, mais patentemente, como na campanha do Governo Federal: "Sou brasileiro e não desisto nunca", que, propositalmente, reforça o individualismo - "sou brasileiro", quando muito bem poderia ser "somos brasileiros" - e que alimenta a idéia de que se deve procurar persistentemente uma solução particular para uma situação difícil.

Só não é apresentada a situação em que vive a maior parte dos brasileiros, cuja adversidade não surpreende que leve muita gente a desistir.

3 comentários:

  1. O Prof.Tomaz Tadeu teria de escrever o que você estava esperando?

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  2. Claro que não teria. Nem ele, nem ninguém é obrigado(a) a satisfazer as expectativas de qualquer leitor(a). No entanto, a escolha por um ou outro objeto de estudo diz muito a respeito dos interesses de cada um de nós, senão, mais ainda, daquilo que não é de nosso interesse.
    Referir-se à desigualdade social como assimetria revela alheamento diante de uma realidade altamente revoltante. Por sua vez, omitir os grupos em desiguais condições de poder é querer não revelar quais são ou não se importar com a concentração do poder num grupo, em detrimento do outro - é se adaptar a uma situação e se retirar de sua superação. Em última instância, é ser conservador.

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  3. Gostei muito das questões que o Bernardo levantou,e concordo sobre o autor não ter dissertado um pouco mais sobre alguns "conceitos". Talvez o fato de não ter entrado um pouco mais em um ou outro assunto mais polemico o tenha deixado com ar de conservador. E isso é bom também por nos incitar a pensar mais criticamente e discutir as várias interpretações com os colegas.

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