quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Problematizando as pedagogias dos iguais

O texto “Por uma pedagogia da diferença”, de Tomaz Tadeu, nos ajuda a pensar que a questão da inclusão, tão discutida entre os educadores hoje em dia, dever ser problematizada em sua raiz, na própria concepção da palavra incluir, que carrega consigo a noção de abarcar, trazer para junto de. Pensando no conceito de traço, de Jacques Derrida, vemos que o termo incluir tem a marca do excluir: devemos incluir aqueles que excluímos durante muito tempo e que muitos gostariam de continuar excluindo. As exclusões sociais, raciais, culturais, econômicas, são construções lenta e constantemente organizadas pelos grupos sociais.
As pedagogias que conhecemos são dos iguais, por isso precisamos incluir (os “não-iguais”). A escola é a instituição-ferramenta de norma-l-ização de um grupo social. Ensina a nos adequarmos a um modelo europeu, branco, hegemônico, economicamente forte. Quando é forçada a receber os que escapam ao seu padrão, sofre e fica perdida, sem saber como lidar com a diferença cultural que a mesma sociedade produz e com a diferença das necessidades especiais, físicas (o nosso mundo não foi pensado para receber os que não caminham, não vêem, que de alguma maneira não se encaixam...).
Entendo que a educação passa, atualmente, por um momento importante de construção e quem decidir se dedicar a esse processo precisa saber que não há nada simples nessa tarefa. O movimento é a marca maior nos processos de constituição de sujeitos e por isso é interessante conhecer e (tentar) praticar a pedagogia da diferença, que nunca vai ser panfletária, nunca vai publicar normas de como agir/como fazer, mas que, entendida como política, vai funcionar ou fazer funcionar um modo de ser que trans-forma aqueles que entendem essa produção.
Muitos confundem a “proposta” de pedagogia da diferença com um não ensinar, não exigir [e eu, pessoalmente, fico incomodada com a falta de leitura que leva ao rótulo de “esses pós-modernos”, que “relativizam tudo”]. Perceber a necessidade de uma pedagogia outra, que dê conta dos desafios atuais da educação, e trabalhar para um fazer outro no dia-a-dia da escola são tarefas extremamente complexas, que demandam muita competência, criatividade e profundo conhecimento. Era muito mais fácil quando havia um único jeito de fazer e apenas se impedia a participação dos que não se enquadravam.