domingo, 15 de novembro de 2009

Sobre a entrevista com o Prof. Boaventura de Sousa Santos

O que propõe o Prof. Boaventura sobre pensar "um conhecimento prudente para uma vida decente", em certa medida, é algo libertador para a vida humana, pois trás um novo questionamento que se coloca para responder as nossas necessidades que em muito diferem das necessidades da modernidade. Por outro lado, tal questionamento representa e evidencia uma crise existencial, um momento de transição paradigmática que muito nos incomoda, porque nos educamos ainda dentro de uma mentalidade cartesiana, puramente moderna. Diante disso, partindo da premissa do multiculturalismo, o autor vem a propor uma dialógica entre o conhecimento científico e os demais conhecimentos, onde ambos tenham iguais condições para argumentarem sobre a sua validade.
A lógica moderna hegemônica sempre impôs uma relação vertical entre conhecimento científico e as demais formas de conhecimento, dessa forma, o cientificismo moderno se sobrepôs com sua linguagem técnica ininteligível sobre os demais conhecimentos. E, hoje, pertencer a esse paradigma hegemônico e olhar para o mundo sobre o viés do multiculturalismo nos causa, no mínimo, uma profunda estranheza, faz com que entremos em contradição. É, por isso, que o autor vem a incentivar uma crítica paradigmática, que se faz no momento em que olhamos para as outras culturas, para as outras formas de conhecimento que foram avaliadas pelos ocidentais modernos como marginais, para poder então substanciar a crítica ao campo de conhecimento hegemônico através da hermenêutica diatópica.
Quando o autor nos fala em hermenêutica diatópica, ele quer dizer que pretende entender os conhecimentos das diversas culturas a partir do que eles expressam em si, de sua validade. No entanto, a hermenêutica possibilita a interpretação das diversas culturas, de textos, de falas e argumentos, já a diatópica, pelo que eu entendi, delimita espaços, de um lado a ciência moderna e de outro os conhecimentos marginalizados por ela, reconhecendo as diferenças o que é fundamental, mas também reconhecendo a desigualdade, o que nos coloca num certo impasse por sabermos que há um olhar hierarquizante, que no limite impossibilita o diálogo. Então, me pergunto, o que fazer diante disso? Talvez, o caminho para tal impasse seja, nas palavras do autor: “(...)aceitar um imperativo: temos o direito a ser iguais quando a diferença nos inferioriza, temos o direito a ser diferentes quando a igualdade nos descaracteriza. Sem esse princípio não me parece que seja possível um diálogo multicultural progressista.”
Penso que este debate epistemológico proposto pelo autor, tal como este período de efervescência decorrente de um desejo de ruptura epistemológica, nos faz pesar o que seria um conhecimento prudente para uma vida decente, talvez seja mesmo esse transitar pelos diferentes conhecimentos de diferentes culturas, tendo em vista o que pode causar a hegemonia de somente uma forma de conhecimento, como exemplifica a ciência moderna com seus epistemicídios e genocídios “(...) as bombas sobre Hiroshima e Nagasaki são de alguma maneira simbólicas desse momento de inversão (...)”(Entrevista com o Prof. Boaventura de Sousa Santos, 1995)