terça-feira, 18 de agosto de 2009

A diferença a partir do "eu"

Excelente o texto de Tomaz Tadeu da Silva “Por uma pedagogia da diferença”.

Um detalhe aparentemente pequeno chamou minha atenção logo no início. Ao discorrer sobre a idéia de “identidade”, o autor faz afirmações utilizando a primeira pessoa , “sou brasileiro”, “sou negro”, “sou heterossexual”, “sou jovem”, “sou homem” ...

Ao discorrer sobre a idéia de “diferença”, o autor usa a terceira pessoa, afirmando os contrapontos existentes em relação as afirmações em primeira pessoa utilizadas anteriormente: “ela é branca”, “ela é homossexual”, “ela é velha”, “ela é mulher” ... (Veja que já nessa parte a homossexualidade é posta como diferença)

Este é mesmo o script utilizado pela literatura que aborda tal tema, tomando por base sempre o outro como o “diferente”.

O exercício que ora proponho é invertermos o significado desta relação binária, assumindo o “eu” como a possibilidade do diferente e o “outro” ou o “ele/ela” com a perspectiva da identidade.

Assim, “ela ser homossexual”, é uma das condições que dá a ela a identidade que lhe é própria, assim como o fato de ser “ela” também velha, mulher, branca etc.

O que me constitui diferente nesse contexto e me dá uma personalidade própria é o fato de ser “eu” heterossexual e também brasileiro, negro, jovem etc.

As perguntas as quais deveria me submeter então são: o que me constitui diferente, isto é, “não branco”, “não italiano”, “não homossexual”, “não velho” etc. Como essas diferenças se refletem no meu modo de pensar e agir? Ou então, como o meu modo de pensar e agir contribuem para a constituição do meu “ser” tal como é? O que me faz pensar e agir de tal modo? Como se dá a minha associação com os “iguais” na minha diferença e como se dá o nosso convívio (eu e meus iguais) com aqueles que formam um grupo com uma identidade que lhes são próprias?

Ao meu ver, pensar no “eu” como a diferença e no “outro” como a possibilidade de uma identidade, faz com que eu busque respostas através de um processo de auto-conhecimento, não na perspectiva liberal sobre a qual nos alerta Tomaz Tadeu, mas numa perspectiva de como me permito influenciar pelo meio que me cerca na constituição do meu ser. A pespectiva usual privilegia o enfoque na dominação ao que o outro é subjugado, permitindo a ilusão de que o “eu” faça parte da “normalidade” e, portanto, do grupo dominante.

Outra vantagem que penso existir ao se olhar por essa perspectiva é que, concomitante à busca pela constituição do meu ser, ocorrerá também a busca pela conquista do meu espaço de poder (cuja relação com a identidade e a diferença é demonstrada no texto por Tomaz Tadeu), a medida que passo a identificar as influências do meio sobre a minha personalidade, através da incorporação de valores morais e religiosos, possibilitando a esse “eu” elaborar um processo de construção de autonomia enquanto sujeito pensante.

Finalizando, defendo a tese que o centro da discussão sobre a diversidade não deveria ser o “outro”, na perspectiva de que seja ele o diferente, mas o “eu”, na medida em que a diferença que transfiro para o outro reside no fato do “eu” não ser igual a ele, ou seja, reside numa diferença que na verdade está em mim, isto é, na minha concepção de mundo.